sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Líder de uma das maiores empresas de recrutamento do mundo fala sobre o que profissionais podem fazer para se preparar e se destacar

Alistair Cox, CEO da Hays, uma das líderes globais de recrutamento do mundo, recentemente compartilhou o que espera de 2018 em um post aprofundado para o LinkedIn.
No texto, que você pode ler abaixo em uma tradução do NaPrática.org, Cox aborda o impacto da ciência de dados e da inteligência artificial, a importância de soft skills e novos tipos de altos executivos, entre outros assuntos.

Os empregos e habilidades em alta em 2018 (e além)

Não importa o que você faz para viver, a quarta revolução industrial, combinada com um mundo mais globalizado e competitivo, está mudando o jeito que trabalhamos – agora e no futuro. Todos nós precisamos estar preparados para mais mudanças em nossas carreiras durante os próximos cinco a dez anos do que jamais estivemos antes.
No entanto, apesar das manchetes sensacionalistas que prevêem a morte do trabalhador humano, na Hays simplesmente não vemos isso acontecendo.
É justamente o contrário de alguns jeitos, já que estamos, na verdade, vemos uma explosão de novos papeis relacionados à inteligência artificial e dados e uma demanda sem fim por soft skills específicas como adaptabilidade, criatividade e colaboração.
Afinal, como disse antes, ainda estamos para ver um algoritmo que pode ler coisas como humor, temperamento ou entusiasmo tão bem quanto uma pessoa.
Porém, ninguém pode se dar ao luxo de ficar parado. Empregadores precisam tornar seus pipelines de talento à prova do futuro, porque seus melhores competidores estão fazendo isso.
Funcionários e aqueles que buscam emprego precisam fazer tudo que puderem para garantir sua empregabilidade futura. Nunca é cedo demais para agir em relação a esses temas.
Para ajudá-lo nessa jornada, recentemente conversei com diversos de nossos consultores ao redor do mundo para obter um panorama em tempo real das tendências de emprego e habilidades que esperamos que continuem em 2018 e muito além.
Espero que isso seja útil para avaliar o ano que chega – não importa de que lado do processo seletivo você esteja.
O objetivo não é ser uma lista exaustiva, mas pelo menos uma que identifique algumas tendências-chave que vemos em comum pelo mundo.

Dados e inteligência artificial estão moldando o futuro do emprego

Inteligência artificial (IA) vai se tornar a nova UI [user interface]. Com a ascensão de assistentes virtuais domésticos como Alexa, Siri e Google Assistant, já estamos começando a nos engajar com a tecnologia de uma maneira totalmente nova.
Isso torna a tecnologia muito mais acessível para uma nova camada demográfica e oferece um jeito diferente de engajar usuários já existentes. Negócios precisam de desenvolvedores de IA que podem aplicar essa tecnologia em um contexto de consumidor para ajudar a impulsionar essa tendência.
No meio tempo, candidatos de IA que não apenas entendam seus aspectos técnicos, mas também as maiores oportunidades de negócios, também estão em alta.
Desenvolvedores que conseguem ajustar as aplicações de uma IA para melhorar empresas e otimizar processos de negócios vão se dar muito bem.
Recrutadores e empregadores vão estar em busca desses desenvolvedores – e esse alto nível de competição vai se refletir em seus salários também.
Dados alimentam a máquina da inteligência artificial é são a nova moeda corporativa, substituindo o petróleo como o recurso mais valioso do mundo, segundo a The Economist.
As montanhas de informação digital cresceram e a ascensão da tecnologia da Internet das Coisas [conhecida como IoT em inglês] está acelerando esse processo.
No entanto, dados sem insight não têm valor, o que explica porque estamos vendo um grande aumento em vagas de cientistas de dados, analistas de dados, artistas de dados e visualizadores de dados pelo mundo.
Esses profissionais trazem sentido aos dados do negócios e ajudam a tornar zeros e uns insights acionáveis, seja para mudar o comportamento de consumidores ou novas oportunidades que olhos humanos ainda não enxergaram.
Dados estão direcionando a demanda por diversos papeis em outros setores também.
Em Marketing, por exemplo, automação de marketing, marketing de performance, customer analytics e especialistas em CRM estão em alta demanda em empresas que querem focar em clientes de maneiras mais sofisticadas e personalizadas.
Isso não significa que esses papeis estão presos em uma indústria, no entanto. Serviços financeiros, manufatura e logística estão emergindo como setores que exigem experts em dados e IA, assim como um crescimento recente para cientistas de dados com foco em governos.
Esperamos que o papel de cientista de dados seja muito presente em todas as indústrias.

Não ignore os papeis mais “tradicionais”

Tudo isso não significa que os trabalhos específicos mais tradicionais da tecnologia e fora dela se tornarão menos valiosos, embora alguns trabalhos tradicionais estejam sob ameaça crescente.
Desenvolvedores de software habilidosos estão em alta demanda, especificamente aqueles com experiência em front-end user interface experience [experiência do usuário com interfaces], conforme empresas evoluem suas ofertas digitais para alcançar as expectativas dinâmicas do consumidor.
Linguagens de programação escaláveis e Java continuam preferíveis, embora ainda exista uma necessidade de fluência em C++ apesar da migração crescente de sistemas antigos.
A preparação para mudanças regulatórias em diversas indústrias, assim como foco contínuo em transformação digital, estão criando uma série de projetos de larga escala.
Isso vai elevar a demanda por profissionais que atuem em gestão de projetos e mudanças, particularmente gerentes de projetos e analistas de negócios.
Também estamos vendo uma demanda saudável por contadores quase ou recém-formados, inclusive no Reino Unido.
Aqueles que estão procurando vagas nesses campos deveriam procurar organizações do setor privado, particularmente aquelas de médio a grande porte, onde esses profissionais estão sendo buscados para ajudar na condução de análises de dados cada vez mais complexas que alimentam insights comerciais mais bem informados.

Novos ingressantes no conselho

Com a invenção da IA e da IoT, haverá uma necessidade crescente de obter líderes que podem testar sistemas que garantam sua segurança, ofereçam soluções se um hack aparecer e mantenham-se atualizados com o panorama técnico em constante evolução para produzir sistemas seguros e à prova do futuro.
O resultado é que vemos um aumento na demanda por Chief Cyber Security Officers (CCSOs) para supervisionar a abordagem de cibersegurança de uma organização e os times cada vez maiores de engenheiros que a implementam.
Conforme empresas correm para cumprir as regras da General Data Protection Regulation [GDPR, uma nova regra da União Europeia] em 25 de maio de 2018, a demanda por experiência com gestão de dados também está escalada.
A previsão é que essa regulamentação crie a demanda por pelo menos 75 mil profissionais responsáveis pela proteção de dados pelo mundo.
Dentro da análise de dados, a GDPR impõe limites ao processamento de dados e criação de perfil de consumidores e aumenta a responsabilidade de empresas que armazenam a gerem dados pessoais.
É uma legislação vital e qualquer líder de uma organização precisa entender seu impacto, porque é profundo.
Estou impressionado com a quantidade de empresas que começaram a pensar nesse assunto só agora. Elas têm muito a fazer para se atualizarem em relação a uma área nova e complexa e os conselhos precisam saber o que está acontecendo nessa situação.
No meio tempo, a gestão de pontos e dados pessoais cada vez mais complexos engatilhou uma nova era para defensores de consumidores em conselhos.
Alistair Cox, CEO da Hays[Alistar Cox, CEO da Hays]
Meus colegas da Hays identificaram uma demanda crescente por Chief Customer Officers (CCOs)  que ajudam a quebrar barreiras dentro de companhias, melhorar a jornada do consumidor e inovar em áreas que estão em alta.
Na mesa do conselho, você também pode começar a ver um Chief Automation Officer (CAOs) conforme os negócios reconhecem o potencial revolucionário da IA, mas se mantêm alertas aos impactos imprevisíveis que ela pode ter no modelo de negócios.
Ao mesmo tempo, a grande batalha para inovar mais rápido que a competição é o combustível da demanda crescente por Chief Innovation Officers, que têm o papel de gerenciar o processo de inovação e gestão de mudanças em uma organização.

Habilidades humanas em um mundo liderado pela tecnologia

Enquanto habilidades técnicas, especificamente relacionadas a dados e tecnologia, estão em alta, soft skills continuarão sendo tão ou mais importantes para empregadores.
Enquanto as melhores habilidades e qualificações técnicas podem ser aprendidas, elas terão impacto limitado a não ser que seu negócio esteja equipado com gerentes que entendem o que motiva seus funcionários, podem se comunicar com sua equipe e escutar.
As organizações que conseguirem combinar a melhor tecnologia e habilidades “técnicas” com equipes que têm uma abundância de inteligência emocional vencerão.
É exatamente isso que estou fazendo com meu negócio. Um novo modelo de ‘encontrar & engajar’ emergiu.
Ele utiliza as melhores práticas de recrutamento e relações com candidatos e as combina com tecnologias emergentes e técnicas de ciências de dados para garantir que recrutadores possam encontrar os melhores candidatos para cada papel, estejam eles estejam buscando uma nova oportunidade ou não.
De minhas discussões com nossos consultores, está claro que criatividade, colaboração, interpretação humana e habilidades de comunicação estão no topo da lista de coisas que empregadores estão procurando.
As vagas mais desejadas focam em traduzir o complexo em algo digerível, seja para colegas em uma organização ou para o consumidor.
Os candidatos que brilham são aqueles que não apenas produzem soluções inteligentes para desafios, mas podem empacotá-los criativamente e comunicar, como, onde e porquê devem ser implementadas.

Conselhos para quem busca emprego: continue estudando

Num mundo que se movimenta muito rápido, uma vontade de aprender e se adaptar nunca foi tão importante.
Meu conselho para qualquer candidato seria sanar qualquer lacuna em seu conhecimento ao se manter atualizado em relação às tendências e mudanças relevantes em seu setor através da leitura de relatórios e notícias, participação em eventos de networking, seminários e discussões online.
Continuamente investir em upskilling, seja através de cursos formais ou treinamentos práticos, vai auxiliar a garantir que seu talento continue relevante.
Mesmo aqueles com qualificações formais devem se manter alertas – estima-se que a meia-vida de habilidades aprendidas seja de cerca de cinco anos – e alguns dos melhores líderes que conhece são modelos de educação contínua.

Flexibilidade e adaptação são peças-chave para o futuro

A adaptabilidade em geral vai beneficiar candidatos conforme o jeito que trabalhamos continuar evoluindo.
“Carreiras de portfólio” vão se tornar mais prevalentes conforme funcionários mudam mais de organizações, quanto negócios vão precisar depender mais de prestadores de serviços para preencher lacunas de habilidades e atingir a disrupção digital em um negócio.
Em um mundo onde o trabalho flexível e remoto está se tornando mais comum, empregadores vão procurar candidatos que podem focar no trabalho em questão e ter a habilidade de priorizar.
Garanta que você pode demonstrar esses traços quando fizer uma entrevista ou, caso esteja procurando contratar os melhores talentos, que pode oferecer essa flexibilidade.
A disrupção no mundo do trabalho é indiscriminada e todos precisam reservar tempo para se manterem relevantes.
Essa mudança, no entanto, não precisa ser temida.
Ela vem com uma série de novas oportunidades para ambos empresas e candidatos, e acredito que o mercado de trabalho de 2018 vai gerar muito mais entusiasmo que preocupação.


jovemaprendiz
(Foto: Reprodução/ Internet)
Estar preparado para enfrentar um mercado de trabalho em constante mutação é o desafio das novas gerações. Somado a isso, é preciso conhecimento e estrutura para enfrentar as crises cíclicas na economia, que afetam diretamente o emprego. As comemorações pelo Dia do Trabalho estão chegando e me levam a confirmar a importância fundamental de uma boa formação educacional em um país que atualmente registra quase 13 milhões de pessoas desempregadas. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que 13,7% dos adultos que não concluíram o Ensino Médio ficaram desempregados; enquanto que entre os que têm nível superior completo, este índice foi de apenas 5,3%. Isso comprova que a taxa de desemprego de indivíduos que interromperam seus estudos na educação básica foi quase o triplo da registrada entre aqueles que terminaram uma faculdade.
Os índices são preocupantes. Mais da metade dos adultos brasileiros não chegam ao Ensino Médio. E falta mão de obra qualificada. Para piorar, o país não investe no Ensino Profissional. Sem educação de qualidade, a parcela mais pobre do país não tem acesso a um bom emprego. Sem falar no retrocesso: programas educacionais como o FIES tiveram as vagas reduzidas e o MEC encerrou o programa Ciência Sem Fronteiras na modalidade de cursos para graduação.
Aliado à falta de apoio governamental para a Educação, vivemos em um país com extrema desigualdade social, com altas taxas de violência e serviços básicos precários, fatores que influenciam diretamente no tempo de escolaridade. Muitas vezes a necessidade do sustento fala mais alto do que os livros e cadernos. Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra que a média de escolaridade no Brasil é de apenas 7,8 anos.
Muito se fala sobre a reforma do Ensino Médio, que é realmente necessária. No entanto, as deficiências encontradas nos anos finais da educação básica – e que trazem por consequência dificuldades de ingresso na faculdade e no mercado de trabalho – são oriundas, na maioria das vezes, da má formação dos alunos lá atrás, no Ensino Fundamental, que é quando se começa verdadeiramente o aprendizado das diversas disciplinas em sala de aula. Aí está o cerne do problema. Para ingressar no Ensino Médio e ter um bom desempenho, crianças e adolescentes precisam primeiro ter passado por um Ensino Fundamental de qualidade.
É verdade que uma melhora vem acontecendo, a passos lentos, mas vem. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) tem apresentado médias crescentes ao longo dos anos. Em 2015, por exemplo, a média das notas nos anos iniciais do Ensino Fundamental ficou em 5,5, ultrapassando a meta que era de 5,2. É pouco ainda, mas já indica um avanço.
Não há receita de bolo, ou melhor, existem várias receitas, mas falta o principal: o comprometimento do Governo com a Educação. Para começar uma mudança profunda, não se pode deixar de fora aqueles que exercem o papel mais importante em todo o processo de transmitir conhecimento às nossas crianças: os professores. Alguns deles, também, são mal formados. O censo do MEC mostrou que 15% dos docentes da Educação Básica não têm ensino superior. Desmembrando esse número, vemos que na Educação Infantil, 6,2% dos professores estudaram somente até o Ensino Fundamental e 18,1% não terminaram nem o Ensino Médio. Já no Ensino Fundamental, 3,7% dos professores que estão lecionando não terminaram nem o Ensino Médio e 5% deles estudaram só até essa etapa. Cursando o ensino superior, são apenas 6% dos educadores.
As prefeituras, responsáveis por 61,3% das escolas brasileiras, têm que arregaçar as mangas! É preciso oferecer cursos de formação e atualização para nossos educadores, dando condições para que eles desenvolvam aulas mais completas e ricas de conteúdo, tendo, inclusive, a tecnologia como aliada. Eles precisam ter acesso a uma metodologia atualizada de ensino, moderna e instigante, que contribua não só para transmitir os conteúdos didáticos tradicionais, mas que desenvolva também nos alunos a criatividade, a vontade de ler e de buscar novos conhecimentos, habilidades cognitivas e socioemocionais fundamentais para prepará-los como cidadãos e para o novo mundo do trabalho.
Luis Antonio Namura Poblacion é Engenheiro Eletrônico pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica; com especialização em Marketing e Administração de Empresas e MBA em Franchising. Atua na área de educação há mais de 35 anos.